Fim do Mundo II


Entre as discrepâncias da mente do povo, que espera que o país avance pedindo redução para 35 horas de trabalho semanal, pontes e feriados livres pra passear e todos os direitos possíveis e imagináveis, eis que o Governo é chumbado em Parlamento, sejam as motivações quais sejam, sejam as consequências as que forem. E a malta fica feliz, porque o Sócrates foi chutado fora do poder e tudo há de mudar...mas há de ficar ainda pior. Dentre todas as descobertas fantásticas que temos agora, descobrimos que não só o nosso 1º andou a dar uma de Mané, como ainda por cima nos enganou e bem. Ao negociar o PEC4 em Bruxelas, já pediu um adiantamento para o enorme buraco orçamental e pré-falência do país...

As alternativas políticas são as que sabemos, as condições económicas são aquelas que vemos, a moral do povo tá lá em baixo...portanto, milagres destes, nem em Fátima.

Na conhecidíssima Badajoz,  quatro tipos sentados à esplanada num dia solarengo de Primavera, olhando a paisagem e o movimento da cidade falam sobre  situação laboral entre mãos...o desemprego.

Com um ar atrofiado, pele cinzenta e fria, besuntando-se com protector solar com grau de protecção 80, a Peste estica o olho bom (sim, porque o outro tem um tersol gigantesco escondido debaixo de uns óculos de sol) espiando as gordas do jornal que o amigo e colega de profissão tem aberto no meio da mesa da esplanada

A Morte, com toda atenção necessária percorria as notícias do mundo e tentando encontrar um local apropriado para dirigir a atenção dos quatro desempregados, vira as páginas com cuidado para não deixar escapar nenhuma oportunidade.
Mas, confiando no agente que os representava, espera que, a qualquer momento, surja um pedido formal para entrarem num qualquer país e fazer o trabalho para o qual estavam destinados. Saca do bolso da longa capa o telemóvel e vê que não há mensagens por ler...

"Ainda sou da opinião que devias ter-me deixado arrancar a cabeça do idiota do agente por nos ter colocado ao serviço daquele engenheiro de meia tigela...nem nos pagou indemnização!! Nada!! Só pagou o mês e mais nada!" rosnou a Guerra

"Foi a primeira vez que o nosso agente foi enganado por um cliente. Quem diria que o engenheiro fosse assim um aldrabão diplomado? Das outras vezes nunca tivemos razões de queixa..." disse a Fome enquanto se deliciava com umas tapas, mordiscando aos poucos e deixando o sabor de presunto derreter na boca faminta.


"Pois é...ó caramba!! Essa é que essa!! Vocês não adivinham quem agora foi para Portugal no nosso lugar!!" disse a Morte quando passou os olhos de relance pelas notícias de Economia Mundial. 

"Querem ver que foi Kali? Aquela gaja sanguinária que gosta de usar colares com crânios e mãos de humanos? Essa mata por qualquer preço e sem olhar à quem...preço de saldo." 

"Não Peste, não é a Kali..." disse a Morte com um leve sorriso...

"Hummmm... chamaram então a malta o Olimpo....querem ver que aquele amigalhaço do Tânatos foi pra lá com o Ares e a Discórdia?" alvitrou a Guerra

"Escuta aí ô inteligência...um país rasca como aquele ia ter dinheiro para pagar deuses do Olimpo? Achas que iam ter coragem de enganar Ares, que tal como tu não tem cérebro e só sabe matar quando contrariado? Sem falar na pouca utilidade de levar a Discórdia...só o Parlamento aparece o fã clube dela..." atirou a Peste ao colega da Guerra...

"Olha lá ranhoso, trata lá das tuas maluquices de hipocondríaco e deixa as coisas sérias para nós, os normais. Mas que seria giro ver Tânatos e Ares por lá... isso seria..."

"Eu não sou hipocondríaco... apenas cuido da minha saúde, afinal, são um par de milénios nestas andanças e temos que estar no nosso melhor. Isto parece que não mas desgasta!"

"Ai não que não é hipocondríaco - atirou a Guerra - não fomos ao Congo, porque o senhor sensível não podia beber água de lá. Não fomos ao Camboja, porque o senhor sou-alérgico- aos mosquitos choramingou o tempo todo. Ao Paquistão?? Nem pensar... a comida fazia mal ao senhor tenho-gastrite... Sem falar na fortuna nessa paneleirice da almofada de gel para a sela..."

"Dois mil anos em cima de um cavalo?? Não achas que é tempo suficiente para proteger as minhas hemorróidas?? Bruto insensível!! Não sou como tu que tens o rabo tão duro como o cérebro!!""

A Guerra, passada da marmita, dá um murro na mesa que faz saltar o pratinho das tapas e mais os copos de finos que a Fome diligentemente salva num piscar de olhos. Apaziguadora, a Morte puxa da gadanha e intervém...

"Vamos lá a ver se acabam-se a troca de galhardetes e tomam atenção...quem foram pra lá são OS PROFISSIONAIS"

Incrédulos, os colegas olharam para Morte cheios de espanto... até a Guerra sentiu um arrepio frio pela espinha.

"Não me digas que aqueles gajos foram para lá..." disse a Peste cheia de tremiliques.

"Bolas, não gosto de admitir, mas esses gajos dão-me arrepios! E olha que sou um dos maiores representantes da Guerra!"

"Foge... chiça!! Eles foram para lá?? Olha lá Morte, nem a peso de ouro ponho os cotos lá de novo ouviste bem? Por preço nenhum" disse a Peste

"Mas afinal...quem foi para lá que é tão mau assim??" perguntou a Fome, com um alheamento fora do normal, sempre foi perspicaz e atento...

"Andas com a cabeça no mundo da Lua ou tens Sol demais na tola..." disse a Guerra

"Né nada disso...anda de paixoneta pela Gula...uma dos 7 Pecados... e anda assim como vês, sem dar conta do que se passa no mundo. Vê lá tu, que até comprou uns brincos pra oferecer à menina..." sussurrou a Peste

Por incrível que pareça, a Fome conseguiu ficar ruborizado e se engasgou com uma azeitona, levando umas belas palmadas nas costas de um perdido de riso Sr. da Guerra.

"Parem de galhofa que o assunto é sério...o FMI está no país e vão ser 10 anos bem complicados para todos. São piores que todas as divindades juntas e o preço deles é diferente do nosso... Eles vivem pelo poder de manipular tudo além de vender as almas que arrecadam...isto meus amigos, é barra pesada." disse a Morte com ar soturno.

Nisso toca o telemóvel  e a Morte vê o número do agente, a sensação de alívio correu pelos quatro amigos, aí viria uma nova esperança de emprego...

"Sim?? Olá! Dá-me novidades... sei...o quê?? Hummmm... bom, isso é invulgar....sei, pois tens razão mas...quanto? Bom, bom...é tentador...pois, mas tenho que falar aos outros  se concordam...claro, certo.. hoje mesmo dou a resposta... mas só se for em sms... não tenho dinheiro para chamadas.. Ok... tchau!"

Quando desligou, viu três pares de olhos pregados nele e mãos crispadas agarradas à borda da mesa, como iria dar a notícia?

"Bom, isto é assim, devido aos vários colegas a tomar conta dos casos que andam por aí... e já agora a malta de Asgard anda a soldo também, temos uma proposta rentável, mas fora do nosso âmbito profissional..."

"Vamos virar hamburguer no Mc?" perguntou a Fome de olhinhos brilhantes

"Não.. temos a proposta de uma gravadora para fazer uma banda de Doom Metal..."

E assim, os temidos Quatro cavaleiros do Apocalipse se viram diante do público, fazendo sucesso e com os problemas mais ou menos resolvidos, se não fosse a Peste com os seus tiques de Diva e a constante ameaça da Guerra sair da banda.

O mundo e a vida são feitos de adaptações... e temos que saber gerir isso tudo. Mas não se faz grandes mudanças em tempo de crise, com 4 dias parados e sem produzir.

Apareçam

Rakel

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