Tendências



Hoje, mais do que nunca, as pessoas procuram ser diferentes; procuram nessa singularidade de escolhas uma forma de destaque e um certo elitismo que dá um certo cunho intelectualóide. Embora eu ainda não perceba muito bem a razão pela qual fazem como todos os outros que também se dizem "loucos" ou "diferentes" e publiquem nas redes sociais as mesmas frases dessas afirmações bombásticas e façam as mesmas poses, publiquem as mesmas coisas que os outros ditos...normais.

Pregam que são um bocado loucos e que o normal não lhes toca, saem da borda do comum e ordinário ser humano, esse escravizado pelo sistema, e que são diferentes. Pois é bom conviver com gente um bocadinho louca, certo? Devem de adorar aquele  tio avô Arnaldo (que mais ou menos toda família tem) que acha que é o último cavaleiro templário e  que em todos os natais vai para a mesa da consoada em traje Adão, não é?
Aí uma pessoa, e não digo quem, até se aproveita desse discurso e  tenta perceber até onde vai tanto a cultura e o vocabulário como a intenção de perceber se dessa elevada alma em se destacar das massas, se realmente tem algum tutano que se aproveite, e afirma então que ela/ele é marginal.

E a pessoa sobe nas tamancas e sente-se insultada nos seus brios, puxa da já velha e batida respeitabilidade calcada num nome sonante que leva "de" entre os apelidos, com um deles de só uma sílaba, e diz que não é criminosa nem nada disso.  E aí eu fico mesmo confusa.

Mas então, não percebem que o significado da palavra marginal é estar à margem, fora desse miolo igual e repetitivo? Não percebem que ser diferente de todos é estar à margem da sociedade massificadora e de rebanho? Ou que tipo de loucura afirmam possuir ou gostar nos outros? Isto realmente é muito confuso...

Outra coisa que ainda não percebo muito bem, e gostaria imensamente que me explicassem, é uma pessoa definir-se pela inclinação ou escolha sexual. Um tipo de cartão de visita. No caso, isso entra também no campo fetichista? Por exemplo, um famoso qualquer vem dar uma conferência de imprensa onde assume como podólatra que saiu do armário? O quê isso interessa ou pesa no quotidiano dele ou das outras pessoas? Os cometas mudam de trajectória?  Descobre-se finalmente a cura para todos os tipos de cancro? Pergunto-me, isso não é um assunto estritamente pessoal e que é tal e qual como a forma como se espreguiça ou o que gosta de comer ao pequeno almoço? Ahhh, certo sofreram durante anos em silêncio e vergonha (essa eu não entendo, precisam que outros assumam para também assumir e já não é vergonha) quando há para aí tanto psico-terapeuta disposto a ajudar a ultrapassar essa penosa fase de transição.

Mas a tendência hoje é expor e colocar em evidência cada aspecto pessoal minuciosamente escarrapachado em qualquer meio mediático ou rede social, esperando aprovação ou "agitando as águas" por marcar a diferença. Pior, pedem que seja lei, que seja permitido à uma criança de 16 anos, ainda em plena fase de experiências e dúvidas existenciais, que mude de estatuto sexual, quando ainda nem para votar é-lhe dado direito, nem para conduzir, cumprir o serviço militar e é ainda da responsabilidade parental. Por algum motivo, as casas de tatuagens pedem identificação para ver se são maiores de idade; se até adulto arrepende-se de ter colocado o nome de alguém ou no auge da maluqueira decide fazer uma tatuagem idiota e depois é aquilo que sabemos...a sério, se já acho ruim uma criança nessa idade ter que decidir aquilo que vai ser a profissão para o resto da vida, quanto mais isso?!

Mas parece que ter os tais 15 minutos de fama já não fica pelo mostrar das mamocas, ou estampar um carro num poste; agora é marcar pela diferença naquilo que acham ser louco, a preferência na cama e...óbvio, aquilo que comem. E lá temos veganos a ir às churrasqueiras e fazendo aquela carinha de nojo, comem arroz e salada, quando poderiam ter trazido de casa uma marmita ou, marcando mesmo a diferença, não frequentando o local. Por falar em arroz, parece que agora, depois de 30 anos na União Europeia, vem o partido da cassete emperrada, a que diz não ser a peninha do chapéu, defender o arroz carolino, produto nacional, e que o povo deve começar a consumi-lo ao invés dos outros, os importados.
Ao mesmo tempo que os produtores de batata fazem despejos em portas de supermercados como sinal de protesto ao baixo preço que esta nobre turbercula rende à eles, vem a Geringonça, em que dois terços dessa máquina defende o trabalhador e o proletariado phodido e mal pago, taxar para mais a batata frita. No seguimento, uma salva de palmas para a lei que aprova a entrada de cães nos restaurantes, abrindo assim um precedente para que quando a ASAE for fazer uma vistoria nas cozinhas dos restaurantes e encontre uma ratazana tamanho XXL, os donos possam defenderem-se dizendo que não é rato mas sim o Faísca, o cão de estimação.

Aos produtores de batata que nem 6 cêntimos conseguem por quilo produzido; abram a pestana e em vez de vender a produção ou despejá-la, façam como os russos; façam vodka! Criem uma nova tendência e vão ter com os produtores de laranja não calibrada e façam negócio! Já reviveram o gin, embora que, tal como a pizza com ananás, está bebida sofreu enormes ignomias a meterem salada junto com ela. Se reviveram o gin, criem uma vodka nacional e certificada. Se calhar, lucram mais e bebem mais do que comer batata frita taxada mais alto. Mirem-se nas tendências, isso é que o povo gosta, de ser diferente, mesmo que se repitam como todos os outros.

Do outro lado do Atlântico, o louro de topete ameaçou tirar a licença de uma estação de televisão (alou Nicolas Maduro!!) por causa de uma notícia que desfavorecia a imagem do país, sendo que ele, o dono do topete, até anda a ver se resolve o problema do Irão e armamento nuclear, mesmo que aquele chanfrado do Paquistão seja 100 vezes mais perigoso. De seguida, mostrando a sua imensa cultura, o apalermado afirmou que encontrou-se com o Presidente das Ilhas Virgens, que no caso é território americano, mas que sendo ilha parece fazer confusão e derrapagem nos neurónios e virou um outro país para ele.

...já agora, para quando é a tal colónia em Marte? É que isto já está além da idiocracia. A tendência parece ser para piorar.


Rakel.

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